sábado, julho 22, 2006

em redor das imagens

(Foto:AP)

O Líbano resiste mas desespera. Condolezza Rice debita num telejornal um típico discurso de assessor para concluir que ainda não chegou a hora de uma força internacional da ONU se isntalar no Líbano porque, diz, ainda há muito a fazer -nem outra coisa seria de esperar, é um desperdicio deixar o trabalho(que ainda agora começou) a meio. Se desligarmos o som o que vemos é Rice de rosto impermeável ao drama de milhares de libaneses parecer estar a opinar sobre os inconvenientes das donas de casa em mudarem de detergente para a roupa ou, na melhor das hipóteses, sobre os custos para o Tesouro americano que representam as toneladas de armamento despejado nas ultimas semanas em Telavive.
Na Dois, passa quase em "pescadinha" o grupo de jornalistas ditos operacionais deslocados para o "teatro de operações": salvo uma única excepção o ar é desportivo, tranquilo e até aparenta estar divertido -nada de dramas, guerra é guerra e, pensam eles, não tarda nada temos de celebrar mais outro score de audiências. Com a morte e a destruição em directos, of course!. O contracampo dá uma ajuda: por detrás do Rodrigo dos Santos pululam luzinhas de casinhas num qualquer bairro de Israel, vê-se movimento rodoviário. Tudo está calmo. A estética segue a preceito a dos primeiros directos feitos de Bagdade pela CNN massificada depois por todas as televisões do globo que é como quem diz, noublesse oblige!.
Mudo de canal. Um libanês, de meia idade, deixa-se apanhar pela câmara no meio de destroços de casas. Quer resistir, tem um ar atónito e ao mesmo tempo extraordinariamente calmo mas obviamente tenso. Mudo outra vez de canal. Na Sic-Noticias surgem imagens que dispensam qualquer contraditório: pontes, autoestradas, tuneis de ligação rodoviária, ruas, casas, hoteis, tudo foi tocado pelas bombas e misseis lançados pelos f16 e pela artilharia hebraica. Mais adiante mostra-se o que resta de um edifício tido como uma fábrica após ter recebido o impacto de cinco misseis. Os militares israelitas podem ter, compreensivelmente, pensado, que a fábrica poderia ser um posto avançado dos terroristas e albergar armamento do Hezbollah e até, quem sabe , uma ou mais baterias dos temíveis foguetes katiuschas, mas não: a fábrica era mesmo uma fábrica a sério sem disfarces que produzia papel...higiénico !.
A par disso, registo como exemplo do pior dos cultos da demência bestial e de desumanidade aquele grupinho de meninas israelitas de ar inocente como é o ar de todas as crianças junto a um blindado de artilharia a escreverem a marcador "mensagens" nas munições agrupadas como se saídas de uma linha de montagem.
Que surpresa reservaram nesse dia, nessa hora, as meninas de Israel aos meninos e meninas libaneses? É o que saberemos com imediata brevidade nos noticiários da manhã.
Desligo o televisor e ponho-me a pensar; a pensar que vivemos num planeta encalhado, com os passageiros e tripulação à beira do naufrágio. Apocalíptico, evidentemente.

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