sábado, junho 30, 2007

palavra de homem

I refuse to be silent any longer. I refuse to be party to an illegal and immoral war against people who did nothing to deserve our aggression. My oath of office is to protect and defend America's laws and its people. By refusing unlawful orders for an illegal war, I fulfill that oath today.
U.S. Army First Lt. Ehren Watada

sexta-feira, junho 29, 2007

ideia de felicidade

Salvo uma ou outra excepção a política do governo continua a seguir, passo a passo, a cartilha de recomendações do FMI. E é pena, porque ao contrário do que se pensa, a sociedade portuguesa não tem (nem terá, nunca) desenvoltura nem dinâmica capazes de aguentar os efeitos devastadores das políticas económicas de "ruptura" em curso, definidas como "necessárias e imperiosas" para o "sucesso" de Portugal, como rezam todas as teses.Nem muito menos estamos preparados para as suas consequências. Em nome do mesmo "sucesso", pedem-nos que enterremos os sonhos (quer dizer, as aspirações, os desejos, as vocações...) e nos disponhamos de bom grado a aceitar todo o tipo de estereotipos e de normas, novas, em que "necessáriamente" passaremos a viver, a depender, para nosso bem, individual e colectivo, evidentemente.


O pior desta tragédia não é o facto de acabarmos, dia menos dia, por nos tornarmos ainda mais escravos e pobres, o pior é convencerem-nos através da alienação que o sonho é um absurdo agora e sempre para o resto das nossas vidas. A tragédia maior é que é preciso um esforço, enorme, para levar as pessoas a perceberem que ele, o sonho, é uma coisa que lhes pertence por direito, que lhes é intrinseca e não é "negociável", em nenhuma situação como as outras coisas que deixámos , pouco a pouco, e cobardemente, nos fossem sendo retiradas.Em nome da "crise", do "desenvolvimento" e também de um "futuro radioso" que jamais conheceremos. Se calhar a ideia de felicidade para a maioria continuará a estar, por muitos anos e bons, no preenchimento semanal do euromilhões. Quer dizer, pelo jogo, pelas apostas, só. Maior felicidade do que esta não pode haver!

quarta-feira, junho 13, 2007

intensidade sugestiva

Donde teria partido esta vontade súbita em voltar a ler António Ramos Rosa? Se calhar depois de ouvir (no pick-up!) os études, op. 10 & op. 25, de Chopin pelo toque virtuoso do piano de Maurizio Pollini. Que relação entre Chopin e Ramos Rosa? O certo é que um produziu, por assim dizer, o efeito (sugestivo) de desejo sobre o "outro". A (re) leitura de Ramos Rosa despoletada pela audição de Chopin deu nisto: a vontade de partilhar um poema (dos maiores...) de A.Ramos Rosa que é (como não podia deixar de ser) de uma enorme intensidade lírica na expressão do alargamento do sentir e do desejo do "eu" e do "tu".
Em abandono límpido tocar
a margem ou centro sob o sol
no perfeito e inacabado arco
do poema
em delírio de um avanço no silêncio
incorporar o escuro sopro de uma
sombra
percurso lúcido e essencial de uma
palavra
até ao limite intransponível
até ao hábito inicial
de uma boca
de terra e ar
fresca do silêncio no avanço
de um espaço branco e negro
margem e centro terra sempre
no fundo a secreta praia lisa
talvez o incessante respirar
(António Ramos Rosa, Boca Incompleta, Edição Artcádia)

domingo, junho 10, 2007

por este rio acima...

Uma das criações maiores da música portuguesa que não me canso de (re)ouvir sempre que a vontade o impõe. Maior também pela fonte (inesgotável) de inspiração. Por ele passou muita da força criativa de "Além do Maar"(Circulo de Leitores / Bertrand), do meu querido amigo Miguel Medina, morto faz exactamente um ano.

revisitar Joanne Woodward


A noite passada, furioso com o desplante assassino da rtp2 em exibir, numa cópia "pan & scan", um dos maiores filmes de Sydney Pollack, "Jeremiah Johnson", decidi procurar no acervo de vhs's "algo" suficientemente apaziguador e belo que me fizesse esquecer mais este acto hediondo (agravado pela habitualidade...) da televisão pública. Sem quaisquer reticências, optei por rever The Effect of Gamma Rays on Man-in-the Moon Marigolds ("O Efeito dos Raios-Gama no Comportamento das Margaridas", estreado no antigo Pathé, no outono de 1973...), de Paul Newman, baseado na obra de Paul Zindel, (prémio Pulitzer) com Joanne Woodward. O que é tocante neste drama intimista (a fazer lembrar uma peça de Tennesse Williams) é a actuação vigorosa de Joanne Woodward, na pele de uma mulher sem amor à volta com as dores de crescimento das suas duas filhas, adolescentes. Newman, que filma magistralmente, sabe como ninguém convocar os sinais de vida, as esperanças e desilusões, as dádivas e a retribuição, as incongruências e a desfaçatez. Parafraseando Angelopoulos, restar-nos -á o tempo inteiro e um dia?

palavras de howard zinn

Civil disobedience is not our problem. Our problem is civil obedience. Our problem is that numbers of people all over the world have obeyed the dictates of the leaders of their government and have gone to war, and millions have been killed because of this obedience. Our problem is that people are obedient all over the world in the face of poverty and starvation and stupidity, and war, and cruelty. Our problem is that people are obedient while the jails are full of petty thieves, and all the while the grand thieves are running and robbing the country. That's our problem.
Howard Zinn, historiador, in 'Failure to Quit'

quinta-feira, junho 07, 2007

dores de crescimento (7)

Lembro-me de ficar minutos no miradouro de s.pedro de alcântara a olhar as luzes brilhantes da avenida e de vaguear pelo cais ao amanhecer, lembro-me. Do mal que nós fizémos, do bem que não deixo de memorar, quando vou no convés do cacilheiro procurar na outra margem o sentido dos nossos absurdos.
Lisboa, Rua Pascoal de Melo, 10 de Setembro de 1984