terça-feira, junho 16, 2009

da resistência


c'est pas um roman, c'est la vie. Un
film c'est la vie. (JLG)
hoje identifico-me com Jean-Luc Godard e a sua fase clássica e por isso é que tenho dificuldade em aceitar que uma boa parte do cinema francês do presente está completamente bloqueado. Com as excepções do costume: Haneke, Chabrol, Resnais, Rohmer e Rivette.
imagem: fotograma de Week-End, de J.L-Godard (1967)

terça-feira, junho 09, 2009

Festival de Cinema da Covilhã




grupo de crianças de escolas do ensino básico da Beira Interior (das mais de 700 que aderiram em massa !) à saída de uma das quatro projecções de "A Viagem de Chihiro" integrada na secção ,"A escola vai ao cinema" do 3º Festival de Cinema da Covilhã, Maio de 2007, organizado pela Delegação Inatel daquela cidade.

A experiência que não haveria de repetir-se nos dois anos seguintes (dadas as fortes e patéticas obstruções ditadas por grupinho com interesses particulares e obscuros instalados em Lisboa) é já vista como um "acontecimento a todos os níveis notável" , quer pela Universidade da Beira Interior, Câmara Municipal da Covilhã, Delegação de Cultura da Região Centro, Municípios de Idanha-A-Nova, Sertã, Castelo Branco -parceiros activos deste a primeira hora (2004)-, quer pela generalidade dos públicos.

O Festival, que ano após ano, vinha merecendo o reconhecimento da imprensa regional mais emblemática, (p.ex., jornal do Fundão, Noticias do Interior, Noticias da Covilhã incluindo rádios locais) e a atenção das televisões RTP e SIC , regressará um dia -podem todos disso estar certos-com ainda mais pujança.

Em jeito de mera constatação: a incompetência e a mediocridade sempre tiveram horror à competência, à criatividade e ao mérito. E o horror acrescido por um orçamento simbólico de menos de uma trintena e meia de milhares de euros (!) proveniente em mais de 60% dos casos de apoios institucionais e privados, de autarquias de cores partidárias diversas, e em especial do empenho do Conselho Directivo da UBI , da respectiva associação de Estudantes e de muitos profs.. É por tudo isto que o "Festival de Cinema da Covilhã" se tornou incómodo e teve de ser foi "abatido".

terça-feira, junho 02, 2009

"dias frios" um projecto de filme adiado

o21- na casa de Miguel - interior/dia
Travelling para a frente, muito lento, no corredor . Ouve-se, à distância, "A Noite Passada" e risos de uma criança provocados provavelmente por cócegas.um gato assoma à porta do quarto de Miguel e avança em direcção à câmara desaparecendo pela direita. Surgem ruídos de uma sirene que se dissipa quando a câmara estaca frente à porta da casa que dá para as escadas.
O som estridente da campainha ressoa uma, duas, três vezes quase ininterruptamente. Voz de Miguel pede à criança para ver quem é. A voz de criança repete "é a mamã". Ruídos de passos apressados a aproximarem-se da porta. Ouve-se outra sirene.

022- na casa de Miguel: frente porta de casa -interior/dia
Sofia de costas, frente à porta.O som da sirene progride lá fora.
A porta abre-se depois de se escutar as voltas da fechadura a abrir. A criança (8/9 anos) sorri e lança os braços abertos ao corpo de Sofia. Sofia beija a criança e coloca-a ao colo e entra fechando a porta. A imagem da porta mantém-se até a voz da criança repetir segunda vez "a mamã , a mamã, trouxe o meu presente!".

023 - no quarto da criança- interior/dia
Plano de conjunto frente á porta aberta do quarto da criança. Os corpos de Sofia e da criança entram em campo no corredor. Miguel entra em campo vindo da direita e abraça Sofia e a criança. Permanecem os três abraçados. O som de "A Noite Passada" deixa de se ouvir.

Sofia: o meu pai foi preso pela Pide esta noite.A minha mãe está arrasada. Temos de nos desembaraçar rapidamente dos panfletos do Joaquim. A polícia não tarda aí.

Sofia, Miguel e a criança saem de campo pela direita. A Câmara inicia um travelling lateral para a direita pondo a descoberto a estante alta de livros , o pick-up e LPs amontoados , a parede branca que transpõe para a sala onde estão Sofia e Miguel a entrar . A criança a correr para o sofá onde se deita a brincar com o boneco action man
Sofia beija Miguel nos lábios e diz-lhe:

Miguel: a casa do António é segura?
Sofia: a casa da Aldina, a porteira, é que é segura.
Miguel: não sei se é de confiarmos...
Sofia: Miguel, a Aldina já nos deu "n" provas de confiança.Lembras-te, da última vez que ela ficou a tomar conta do Pedro (a criança), e de o levar à escola quando estivemos aqueles dias detidos em caxias ?
Miguel (impaciente): não sei, não sei, talvez tenhas razão mas, não estou seguro .

(Extracto de planificação do filme "dias frios"(título provisório), escrito entre Setembro 1976-Janeiro1977)




sábado, maio 23, 2009

"off the record" (1)


Get out of Iraq. Get out Afghanistan. Come home America.
Dennis Kucinich, congressista do Partido Democrata

quinta-feira, maio 21, 2009

joão bénard da costa (1935 - 2009)


Ao fim da tarde, recebo um telefonema do Rádio Clube Português a solicitar-me um depoimento em directo a seguir ao noticiário das 22 horas. Que dizer sobre o homem que amou (como eu) apaixonadamente o cinema e que por ele se perdeu vezes sem conta? Que lembranças direi de um homem inteligente e de uma enorme cultura que um dia me estendeu a mão no seu gabinete da Gulbenkian para ouvir um jovem cinéfilo que queria fazer um filme e que pediu um subsídio (que nunca veio...) à fundação?. O João Bénard que me ficou na retina é também aquele que há anos se ergueu contra uma horda de mentes censórias lideradas por um presidente de Câmara (o controverso Krus Abecassis) que invadiram a sala da Cinemateca Portuguesa para impedir a projecção de Je Vous Salue Marie, de Jean-Luc Godard e acabaram expulsos à bastonada por agentes da PSP.
Foto: Je Vous Salue Marie (1985), by Jean Luc Godard.

domingo, maio 03, 2009

do amor incurável


Evidenciando grande economia e fluidez narrativas, Um Amor de Perdição, parece ser o sinal inequívoco da entrada plena na maturidade de Mário Barroso, que a obra anterior (a primeira, por sinal bastante interessante), O Milagre Segundo Salomé (2004), já anunciava.
Ao inspirar-se no clássico romance popular português, Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, -que, recorde-se, fora por três vezes adaptada ao cinema, inicialmente em 1921 por Georges Pallu, vinte e dois anos depois por António Lopes Ribeiro e quatro anos após Abril de 1974, pela mão de Manoel de Oliveira, que é a versão (mais longa) considerada de enorme rigor estilístico - Barroso propõe convocar o espectador para uma outra visão dimensional da tragédia do par célebre de jovens românticos (Simão Botelho e Teresa Albuquerque) enamorados, “imortalizados” por Camilo: sem reconstituições de época, sem referências históricas e ambientais, sem a carga mítica dos amores contrariados, sem o espartilho dos diálogos literários.
Isto quer dizer que Mário Barroso prefere uma abordagem moderna aparentemente despretensiosa (e sóbria), em que a acção se situe numa Lisboa actual com protagonistas idênticos aos jovens adolescentes de hoje com boa posição social iguais a outros que vemos diariamente nas ruas, nas escolas, a circularem de moto ou em automóveis, a conversarem à beira rio ou em desacatos violentos em bares e discotecas. Confessadamente, o que conta para Barroso é, passe o uso de certos clichés, o retrato de obstinação juvenil num universo de oposição e rebeldia destrutiva que conduz á auto-destruição de um herói, solitário e narcisista, intransigente e suicidário. Quanto a aparente afinidades com a suposta versão pós-moderna de Romeu e Julieta, de Baz Lhurmaan, o filme de Barroso, que está a milhões de anos luz fica-se, e bem, por uma nostálgica referência shakespeariana assaz divertida à volta de beijos de dois adolescentes passada numa aula de dramatização.
No seu propósito inovador, Mário Barroso -que é, também, um notável director de fotografia de méritos firmados internacionalmente- trata o “seu” amor de perdição como uma doença incurável em crescendo sem, no entanto, prescindir aqui e ali de um tom irónico a que não falta alguns momentos estimulantes de sensualidade e compaixão.
E, pesem alguma convencionalidade da representação, o elenco é globalmente impecável e a câmara (digital) de Mário Barroso compõe eficazmente, como sempre, sugestivas atmosferas.
Um Amor de Perdição
de Mário Barroso (Portugal, 2008 1h21 min.)
Com Tomás Alves, Patrícia Franco, Willion Brandão, Catarina Wallenstein, Ana Padrão, Rui Morrison, Virgílio Castelo, Ana Moreira, Paulo Pirtes, Dinarte Branco, etc.
(data de estreia em Lisboa: 23 de Abril )
publicado em Tempo Livre, Abril 2009

domingo, abril 26, 2009

portfólio (6)


Refª: ciclo de cinema "França, Cinco Grandes "
Formato: A4, uma cor
Design e produção: JSDiabinho
Edição: ABC Cineclube de Lisbooa, 1987