quarta-feira, outubro 18, 2006

o caminho da serpente

Margritte: reproduction interdite
De tanto se resignar (à impotência) o português já não estranha o fogo rápido que sob ele se vem abatendo em nome dos pressupostos da crise não, o português já só deixa se entranhar, não obstante manter uma réstea muito fugaz de esperança... em que o pesadelo passe a ser visto como um cataclismo da natureza...dos homens evidentemente e que outros (homens não necessariamente humanos) saberão superar -e quase de certeza- sem a ajuda dos milagrosos ansiolíticos e antidepressivos que se esgotam de forma impressionante nas farmácias para gáudio dos laboratórios... .
O português já se cansou de tentar perceber onde pára a solução, justa e consensual, para os problemas do hiperendividamento das contas públicas do país, se os "grandes" (senhores e interesses) ficam sempre fora da zona de risco. O que explica a razão por que a crise faz felizes e descontraídos outros portugueses , em número muito mais reduzido, como é certo.
A felicidade exige sabedoria e talento. O português comum, constrangido e forçado a andar de mãos levantadas -longe dos bolsos, portanto- não o sabe, por certo. O primeiro-ministro sabe o que o português sabe (ou julga saber) sobre as políticas de "salvação" do sistema que estão sendo servidas a "frio" semanalmente e o que elas valem e valerão no futuro próximo.
Forçoso é, de qualquer modo, reaprender ou reajustar(!) algumas regras básicas de sobrevivência. Uma dessas regras diz respeito à atracção (fatal) por um antigo e popular mandamento "social" -salve-se quem puder! Isto quer dizer : os valores -os poucos que ainda rareiam- devem continuar a ser eclipsados. E pesem os circunstancialismos, muitas mentalidades já perceberam isso. É também por aí que a crise , na sua fúria reparadora, só pode trazer benefícios a uns e ilusões a muitos mais.Que tamanha felicidade!
Oeiras, 12 Setembro 2006

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