O que me atrai na personalidade incontornável do grande escritor irlandês, Samuel Beckett é a sua sensibilidade radical: hipersensível, hipercrítico -tanto em relação a si como aos outros- Beckett posicionou a vida na margem do limbo. Essa opção que diria, ser absolutamente consciente e que lhe trouxe como que se sabe consequências, (isolamento social; viveu os últimos anos de vida como um eremita) não foi mais do que uma via (dolorosa e necessária) para a afirmação punjante do seu poder criativo e qualidades reflexivas.
O que me atrai também em Beckett não é apenas o lado exasperado, alucinante e obsessivo da solidão (a incomunicabilidade) do Homem na sociedade moderna mas a consciência da sua resignação e impotência.
No ano em que se celebra o centenário do seu nascimento, recordemos o poema, Os ossos de Eco:
asilo sob os meus passos este dia inteiro
os seus folguedos abafados enquanto a carne se desmorona
arrotando sem receio sem pavor
percorrida a punitiva fileira da sensatez e insensatez
tomados pelos vermes por aquilo que são
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