A 25 de Abril de 1974, eramos jovens e inocentes, -nem tanto.
Viviamos sob o signo da utopia, do mundo novo que "estava ali" ao virar da esquina, julgavamos nós. Reuniamo-nos nos cafés da zona da Avenida de Roma (o Trevi, a Madrid) para falar dos ideólogos da nova esquerda, do marxismo, do leninismo,do último Godard, da revolução russa, de Stalin (que gerava entre nós muito prurido), de Guevara e Fidel, do Até Amanhã, Camaradas, (que todos sabíamos ser escrito pelo Álvaro), de Lukacs, dos eurocomunistas Carrilho e Berlingueri e do "puro e duro", Lister, dos filmes de Eisenstein, de Vertov e de Poudovkine, da Revolução Francesa, do Irish Republican Army, da Fatah, da contestação à guerra do Vietname de Praga 67, da Insurreição de Budapeste em 56, da Ofensiva de Tet e do exímio general vietnamita,Giap; dos "meetings" no ISE ou em Medicina, das cargas da polícia de choque comandadas pelo capitão Maltês ou pelo Capitão Pereira (que me deu voz de prisão duas vezes em 1973), da Declaração de Independência da Guiné-Bissau transmitida pela rádio Portugal Livre, etc, etc, etc. .
Mas o único motivo de satisfação (ia a escrever , enorme) que nós poderíamos ter vivido estava programado para uma noite memorável de Junho no Coliseu de Lisboa: as canções heróicas de Fernando Lopes Graça.
Lembro-me, perfeitamente, de a sala do Coliseu dos Recreios parecer vir abaixo com a implosão de milhares de vozes em uníssomo: "Vozes ao alto, vozes ao alto /unidos como os dedos da mãos / Havemos de chegar ao fim da noite / Ao som desta canção". Era uma festa, mas uma festa de combate. Em torno de muitas coisas, penso eu.
Lembro-me a propósito das pessoas mais velhas com lágrimas nos olhos darem as mãos às pessoas mais jovens e da fraternidade tomar conta da sala a noite inteira.
O Lopes Graça deixou-nos a todos nessa noite de 74 uma memória e uma lembrança: nunca renunciaremos ao sonho!
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