terça-feira, julho 24, 2007

desmontagem crítica


Ser radical é descer à raiz; e a raiz do homem é o próprio homem (i.e. a sua individualidade)
Karl Marx
Faz trinta anos (para ser preciso, entre 18 Maio de 1977 e 29 Dezembro de 1978)que João Sousa Monteiro nos brindou com "O Homem do Tempo", um singular e nada usual programa radiofónico, transmitido duas vezes por semana na ex-RDP 4. Singular porque assumia um inconformismo, subversivo e radical, na crítica do capitalismo (incluindo o de Estado) e desmontava, um a um, "os tabus sociais de maior impacto estratégico para a sobrevivência e o bom funcionamento de qualquer sociedade civilizada que consiste na proibição de pensar". Pouco ou nada usual porque JSM dirigia-se , num tom revolucionário que não era vulgar, deliberadamente, contra a formatação do conceito, vulgar e demagógico, de "revolucionário" e sobre algumas das suas teorizações mais dominantes.

A força de "O Homem no Tempo" mostrava-se muito para além dos textos ditos por JSM e o suporte audio (voz de Hitler a discursar; ruídos de aviões; metralha e explosões, etc.) que ajudava na "descida aos infernos". É certo que o trabalho de JMS (incómodo, muito incómodo para as "boas" consciências) terminou silenciado, para tranquilidade dos espíritos mais sensíveis e cheios de certezas.

Em 1979, a Assírio & Alvim resolveu publicar os textos que durante semanas, meses constituíram a razão desse refrescante "O Homem no Tempo": "Tire A Mãe da Boca" e "Tabu, príncipe dos cágados de fraldas ao vento ladra ás portas do futuro". Um diptíco imperdível agora que nos acenam com novos velhos costumes totalitários.


Foto: Die Blechtrommel ( O Tambor), de Volker Schlondorff, Alemanha/França, 1979

Sem comentários: