terça-feira, julho 31, 2007
michelangelo antonioni (1912-2007)
"Dou uma grande importância à banda sonora, aos sons naturais, aos ruídos, mais do que à música... . O nosso drama é a incomunicabilidade, que nos isola uns dos outros. A sua permanência faz-nos sentir perdidos e impede-nos de resolver os problemas por nós próprios. Não sou um moralista, nem tenho a pretensão nem a possibilidade de encontrar uma solução... ."
Michelangelo Antonioni,
declarações em "Dicionário de Cineastas", Georges Sadoul, Livros Horizonte ,1979
"last of the greats"
O elogio emocionado de Ingmar Bergman em artigo de Paul Schrader, argumentista(Taxi Driver) e realizador(Blue Collar, Patty Hearst) publicado na edição de hoje The Independent .
tomar o pulso...
O site do Partido Democrático norte-americano merece uma visita para se saber do estado da nação. Para além do "escândalo" Bill O'Reilly (com este a ameaçar destruir a voz de imprensa "DailyKos.com") fica-se a saber que a Administração Bush está a promover a ilegalização (cinco valentes e democráticos Estados já aderiram...) de t-shirts "estampadas" com os nomes dos soldados mortos na farsa sangrenta iraquiana . Mas o que se revela mais interessante é o constatar dum clima"opressivo" e "racista" generalizado no quotidiano americano. Um "passeio" por sites comerciais dão conta da panóplia de adereços anti-Bush e "estado das coisas" a que chegaram os United States of America. Foto: catálogo wearatshirt.com
segunda-feira, julho 30, 2007
persona:lição de cinema
Confesso: "devo" a Ingmar Bergman o privilégio de, aos 14 anos, me ter confrontado com uma outra forma de fazer cinema, mais inovador, mais deslumbrantemente criador e inquietante (e de grande complexidade) do que até então me parecia. Desde esse dia percebi também que o cinema detinha um poder absolutamente notável; qualquer coisa que se joga entre a (linguagem da) imagem e a vida, e cuja relação connosco é grande, imenso e fascinante, que pode mudar, para sempre, as nossas vidas, como acredito que mudou a minha.
ingmar bergman (1918-2007)
"Eu penso que cada posição de câmara deve ser resultante
de um conhecimento íntimo do cinema .
Sabemos o que queremos obter e, então, também devemos saber
onde colocar a câmara. É uma moral profissional, uma ética." Ingmar Bergman, Cahiers du Cinéma nº 203
quarta-feira, julho 25, 2007
In memoriam de sacco & vanzetti
Faz em Agosto oitenta anos anos que dois emigrantes italianos, Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, foram usados pelo sistema político-judicial norte-americano e condenados à morte -num processo vergonhoso que veio a ser anulado quase sessenta anos depois- por electrocussão no estado de Massachusetts.
A partir de hoje, e até finais de Agosto, proponho-me aqui lembrar Sacco e Vanzetti não apenas como forma de homenagem mas também como símbolo de reconhecimento de todos aqueles que se estão batendo pela reinvenção do Homem, contra os poderes arbitrários e o totalitarismo nas suas diversas expressões.
simbolizar a coragem
Western "existencialista", High Noon / O Comboio Apitou três Vezes (Fred Zinnemann, 1952), é também visto como uma alegoria política dos anos negros do McCarthysmo da"caça às bruxas" e da intolerância. Relato (em tempo real!) de como uma comunidade citadina se acobarda e isola um xerife determinado e corajoso em afrontar quatro perigosos pistoleiros, High Noon foi na sua época celebrado como um dos exemplos mais interessantes do género e, porventura, aquele que sob um dispositivo clássico se propôs desenvolver um discurso "ideológico" nada tranquilizador sobre a responsabilidade moral colectiva e as virtudes do individualismo. Virtuoso e inteligente, é o filme- tipo no momento político que as televisões portuguesas fariam muitíssimo bem em programar para uma noite destas.
Foto: Gary Cooper e Grace Kelly, High Noon , de Fred Zinnemann (EUA,1952)
terça-feira, julho 24, 2007
simbolizar o "bem"
Noite de segunda-feira frente ao televisor para reencontrar (em dvd) um velho "herói" da adolescência cinéfila: Shane (George Stevens, 1953) afigura-se-me agora envelhecido, ultrapassado, demasiado simbolista. Ainda assim, o filme parece conservar muito da carga mítica com que seduziu, admiravelmente, espectadores de todas as idades. A figura misteriosa de Allan Ladd, o cavaleiro justiceiro de branco vestido, surgido do "nada", a lutar contra o mal, (personificado por Jack Palance, de negras roupagens) era , para mim, uma imagem tão sólida, tão abusivamente perfeita que chegava mesmo a ser paralizante ao ponto de o ter visto quase de seguida num longínquo fim de semana dos inícios de 70.
desmontagem crítica
Ser radical é descer à raiz; e a raiz do homem é o próprio homem (i.e. a sua individualidade)
Karl Marx
Faz trinta anos (para ser preciso, entre 18 Maio de 1977 e 29 Dezembro de 1978)que João Sousa Monteiro nos brindou com "O Homem do Tempo", um singular e nada usual programa radiofónico, transmitido duas vezes por semana na ex-RDP 4. Singular porque assumia um inconformismo, subversivo e radical, na crítica do capitalismo (incluindo o de Estado) e desmontava, um a um, "os tabus sociais de maior impacto estratégico para a sobrevivência e o bom funcionamento de qualquer sociedade civilizada que consiste na proibição de pensar". Pouco ou nada usual porque JSM dirigia-se , num tom revolucionário que não era vulgar, deliberadamente, contra a formatação do conceito, vulgar e demagógico, de "revolucionário" e sobre algumas das suas teorizações mais dominantes.
A força de "O Homem no Tempo" mostrava-se muito para além dos textos ditos por JSM e o suporte audio (voz de Hitler a discursar; ruídos de aviões; metralha e explosões, etc.) que ajudava na "descida aos infernos". É certo que o trabalho de JMS (incómodo, muito incómodo para as "boas" consciências) terminou silenciado, para tranquilidade dos espíritos mais sensíveis e cheios de certezas.
Em 1979, a Assírio & Alvim resolveu publicar os textos que durante semanas, meses constituíram a razão desse refrescante "O Homem no Tempo": "Tire A Mãe da Boca" e "Tabu, príncipe dos cágados de fraldas ao vento ladra ás portas do futuro". Um diptíco imperdível agora que nos acenam com novos velhos costumes totalitários.
Foto: Die Blechtrommel ( O Tambor), de Volker Schlondorff, Alemanha/França, 1979
quarta-feira, julho 18, 2007
a vulnerabilidade do poder
segunda-feira, julho 16, 2007
a ultima oportunidade
Como se esperava, o socialista António Costa ganhou as eleições intercalares para a CML. Sem maioria absoluta e a previsível oposição moderada da assembleia municipal, que lhe é adversa, o ex-ministro Costa tem pela frente uma tarefa verdadeiramente ciclópica: a de voltar a repor a credibilidade na maior autarquia do país e num curto espaço de tempo. Não vai, concerteza, ser tarefa fácil. Por conveniência, mas também por necessidade "funcional"estratégica, o PS vai ter de fazer uma política de antecipação de interesses se não quiser tornar-se refém, não apenas de si mesmo, mas das oposições. É para esse risco, o de subordinação à teia de interesses representados pelo PSD e Carmona (responsáveis pelo desbaratar de crédito estes anos todos), que o PS tem de reagir. De contrário, é a anulação, a erosão numa palavra, renúncia. E, então, teremos a (re)comprovação de estarmos, politicamente, irremediavelmente condenados.
sexta-feira, julho 13, 2007
para minha mãe
Aconteceu-me hoje lembrar-me do teu aniversário. Em poucos instantes revi-te no olhar doce, expectante e por vezes triste a caminhares até mim dares-me um beijo, fazeres-me uma festa, retribuires-me um sorriso e tranquilizares-me com uma palavra.
Aconteceu-me hoje lembrar-te através dos beijos, dos abraços, dos afectos; lembrar-te também através das inquietações, dos receios, das preocupações, das alegrias; lembrar-te ainda através da combatividade, das incertezas, do (des)ânimo. Lembrar-te em muitas coisas que em criança me dizias e me faziam rir porventura das histórias de fadas e gnomos que me lias ao deitar e das matinées de cinema aos domingos, das passeios a pé, dos desenhos que fazias para mim ou dos teus poemas, escritos num pequeno bloco de bolso, que me lias em momentos especiais de felicidade.
Lembrar-me de ti é, como hoje, encontrar-me incomparávelmente só.
quarta-feira, julho 11, 2007
in memoriam de Sousa Mendes, o rebelde consciencioso
A peça de Luís Francisco Rebelo, "A Desobediência", sobre a personalidade corajosa e respeitável do cônsul Aristides Sousa Mendes que ousou desafiar ordens de Salazar salvando as vidas de 30.000 refugiados da demência nazi-fascista vai, a partir de 11 de Outubro, subir ao palco do Teatro da Trindade, numa encenação do actor Rui Mendes.
reflexos do tempo (2)
José Vítor Malheiros no Público de ontem, dia 10 : "Que se exija uma lealdade aos chefes que proíbe a crítica política é algo que não merece outra qualificação senão a de fascista". É confortante ver que nem todos se (re)traíram ao clima de medo e de intolerância que parece grassar impunemente na sociedade portuguesa decorridos trinta e três anos do acto libertador de 25 Abril. Não é por acaso que essa vaga de atitudes ultra-direitistas que vimos assistindo nos últimos dois meses têem tido um propósito deliberadamente provocatório. De resto, o próprio Governo, mais precisamente Sócrates, acusa algum desconforto mas, o certo é que tarda, tarda e muito, a tomada que se impõe de decisão de honra do governo, porque é de honra de um governo eleito democraticamente que se trata. E de um governo saído de um partido socialista. No mínimo, a honorabilidade do governo obriga a desencorajar, revelar desagrado, advertir os candidatos a opressores que a tolerância atingiu, agora e sempre, o grau zero de permissividade. O governo deve deixar-se de explicações simplistas e, pior, ambíguas, que só tem servido para fazer aumentar a dúvida, duvidar das intenções políticas do Estado, instalar a insegurança progressivamente e a apologia do medo e da obediência cega ( não só para controlar) em que nos querem meter a todos. O governo deve agir, se quiser continuar a merecer o respeito do povo que lhe outorgou, através do voto democrático, a legitimidade do poder. O artigo, acutilante e corajoso, de Vítor Malheiros é uma tomada de consciência do que está ocorrendo em certos pensamentos bem instalados e que não adianta querer disfarçar e assobiar pró lado. Quanto mais não seja em nome da democracia e dos seus intrínsecos valores.
segunda-feira, julho 09, 2007
reencontrar Kurosawa
Hoje, resolvi perder-me, uma vez mais, de amores por Dersu Uzala (cópia dvd, made in Spain, por 12,5 euros!) e reconfirmar Kurosawa como um dos realizadores mais marcantes e influentes na minha paixão pelo cinema. O texto, da minha autoria, que segue no parágrafo seguinte, foi redigido aquando da estreia, no final da década de setenta, na sala do Apolo 70, já desaparecida e publicado na Linha Geral, revista (ano 3, nº18, março de 79) da UEC (União dos Estudantes Comunistas, liderada por dois "pesos pesados": Zita Seabra e Pina Moura!) para a juventude estudantil, onde eu era colaborador. O texto, competente, mas pouco analítico e muito descritivo, cheio de "vicíos", dizia assim:
Dersu Uzala - A Águia da Estepe, é um filme lúcido e impressionante sobre dois paralelos: o homem e a natureza e a atitude do homem face a si mesmo. Mas é igualmente um filme sobre a amizade entre dois personagens centrais, Arséniev e Dersu. Amizade que se reforça graças ao amor que ambos dedicam à natureza. Tudo isto aliado a um tratamento soberbo da imagem e som. Observação rara, num estilo documental, onde se respira um profundo humanismo que se reconhece cena após cena com tal grandiloquência que fazem de (Akira) Kurosawa um excelente autor . De forma que este filme é um verdadeiro caleidoscópio de excelentes imagens com um dos mais difíceis actores: a natureza , tal como ela é.
Foto: Dersu Uzala, by Akira Kurosawa (URSSJapão, 1975)
domingo, julho 08, 2007
pierre bourdieu, presente!
Defensor da criação de um movimento social europeu capaz de se opor aos ditames da nova ordem económica mundial , o militante social, crítico acérrimo do liberalismo desenfreado e sociólogo Pierre Bourdieu (1930-2002) deixou-nos em Contrafogos (1 e 2, publicados pela Editora Celta) uma análise cortante e exemplar sobre as teias económicas dominantes em curso e a sua ofensiva poderosa, pelo gradual desmantelamento do Estado social. Acho que a palavra "cortante" é frouxa para adjectivar com precisão o rigor, a capacidade e a excelência de reflexão sobre os tempos que vivemos. E aqueles que ainda hão-de vir.
sábado, julho 07, 2007
reflexos do tempo (1)
Na companhia do gato, Nico, ( em cima da secretária, atentíssimo aos toques no teclado) reflicto sobre a troca de impressões de ontem com um velho amigo de noitadas cinéfilas: que efeito vão ter em cada um de nós os tiques autoritários e intolerantes expressos nos últimos tempos por alguns respeitabilíssimos membros da admnistração de Sócrates? Voltaremos aos anos de chumbo em que ter opinião contrária irá despertar, de novo, a aplicação da repressão? Por enquanto, o que mais me impressiona, é a tranquilidade bovina reinante: os comportamentos estão já formatados no essencial. Estamos agora na fase de amplificação. Talvez por isso a minha disponibilidade por estes dias para reler Chomsky, Bourdieu, Huxley(como também, Orwell) e Kafka tem sido quase total. Não, não como "porto de abrigo" nem essas tretas todas, antes como cúmplice de homens que pensaram o Homem com extrema lucidez profética.
Agrada-me que esta vontade de retorno ao Homem seja feita justamente por tão exímios ilustradores.
Foto: Stalker, by Andrei Tarkovsky (URSS, 1979)
quinta-feira, julho 05, 2007
totalitarismo estatal
Confesso: o pensamento da secretária Pignatelli sobre a liberdade de expressão e quais os sítios adequados e menos próprios para expressar opiniões conduziu-me de imediato ao quarto de banho cá de casa (por razões de pura comodidade e segurança... bacteriológica) para melhor avaliar do simbolismo do lugar onde, como aconselha a simpática senhora, deverão
ser despejados os nossos mais secretos rancores contra os governos, a nossa raiva incontida contra os ministros, os subsecretários e secretários (desculpem a des-ordem), os adjuntos dos últimos e respectivos assessores e chefes de gabinete se for caso disso.
Confesso: parte da missão da secretária Pignatelli era escusada, pelo menos para mim. O pensamento, isto é, todo o livre pensamento, foi sempre perseguido e condenado pelos poderes totalitários. Para o totalitarismo (estatal) não basta ser-se absoluto e arbitrário é preciso levar á asfixia toda e qualquer crítica do espírito. Foi isso que aprendi aos 16 anos em pleno regime fascista. Que fazer? Bom, sempre podemos por começar carregar no botão do autoclismo. E, de seguida, passar à acção... recordando Manuel Alegre: Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.
Confesso: parte da missão da secretária Pignatelli era escusada, pelo menos para mim. O pensamento, isto é, todo o livre pensamento, foi sempre perseguido e condenado pelos poderes totalitários. Para o totalitarismo (estatal) não basta ser-se absoluto e arbitrário é preciso levar á asfixia toda e qualquer crítica do espírito. Foi isso que aprendi aos 16 anos em pleno regime fascista. Que fazer? Bom, sempre podemos por começar carregar no botão do autoclismo. E, de seguida, passar à acção... recordando Manuel Alegre: Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.
terça-feira, julho 03, 2007
Abu Graib:as confissões do general
A revista norte-americana, New Yorker, publicou no seu número de 25 de Junho uma entrevista, bastante esclarecedora, com o ex- general Antonio Taguba, responsável pela primeira investigação militar sobre as torturas praticadas na prisão de Abu Graib de Bagdad. Segundo Taguba, -que acabou afastado por se ter recusado a ocultar a barbárie praticada na prisão iraquiana- "o ex-Secretario de Defesa, Donald Rumsfeld, e outros altos funcionarios conheciam, meses antes da sua divulgação pública, a existência de mal tratos e torturas praticadas" no célebre cárcere da capital do Iraque.
Para aceder ao artigo, na íntegra, clique em:www.newyorker.com/reporting/2007/06/25/070625fa_fact_hersh
segunda-feira, julho 02, 2007
sinal de "progresso"
Por decisão da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) tomada em Abril passado, a EscolaEB 23 Padre Agostinho Caldas Afonso é extinta a partir de Agosto. Não fosse o caso de escola ter sido escolhida para receber o "Prémio Iberoamericano de Excelência Educativa 2007", atribuído por um organismo internacional não governamental, sedeado no Panamá, e o fecho anunciado deste estabelecimento de ensino seria apenas mais um nas estatísticas. Que explicação (simplista) tem o Ministério da Educação para mais este sinal de esclerose do sistema? Arrisco a "máxima" (que me ocorre no momento): descerebrizado pela grosseria neo-liberal o responsável (ou, os responsáveis) por mais este acto de depauperamento do país deu uma prova de se ter demitido da condição humana.
domingo, julho 01, 2007
running on empty revisitado
Metáfora sobre a família (que se reporta às consequências de um acto de luta política nos anos 60 contra a guerra do Vietname) , Running on Empty / "Fuga Sem Fim" , de Sidney Lumet mereceu, na altura da estreia em sala (verão 1989), os mais calorosos elogios por parte da crítica. E o caso não era para menos. Surpreendentemente, ou talvez não, Lumet fez de um tema carregado de emocionalidade e permeável à exploração lamecha, um filme de enorme contenção narrativa, sobriedade e rigor. Rever, dezoito anos depois, Running on Empty , em dvd, ficou -me amplamente demonstrado que o "toque" de Lumet fica para sempre fixado na minha retina como um dos mais comovidos e simples deslumbramentos humanos.
Foto: River Phoenix e Christine Lathi, em Running On Empty (1988), by Sidney Lumet
Subscrever:
Mensagens (Atom)