segunda-feira, agosto 27, 2007

o homem que amava a escrita

A minha admiração por Eduardo Prado Coelho foi como o betão armado: resistiu às desilusões (pequenas ou grandes e quase sempre de ordem política e ideológica) "emocionais" que fui experimentando com menor ou maior capacidade de encaixe. Lembro-me de ter alimentado quase à exaustão um debate ressentido sobre o seu abandono do PCP e a aproximação ao MES e, -com o tempo cada vez mais a desfavor da revolução- , ao PS. Pelo contrário, a minha admiração pelo Eduardo Prado Coelho foi-se cimentando com o correr dos anos. Conhecemo-nos e falámo-nos duas vezes e por breves minutos: a primeira, num corredor do edificio do Palácio Foz onde funcionava a Direcção-Geral de Acção Cultural de que o Eduardo era director, a segunda no S.Luiz (numa das sessões organizadas pela dupla João Lopes/Camacho Costa) e trocámos breves palavras sobre as expectativas do "novo" cinema português em preparação ano e meio depois do 25 de Abril (Os Demónios de Alcacer Quibir, do Fonseca e Costa, o Nós por cá, todos bem, do Fernando Lopes, Ruinas no Interior, do Sá Caetano, Trás-os-Montes, do Reis...).Recordo a sua afabilidade, o sorriso e a postura analítica do olhar. Vimo-nos, meses depois (já em 1976), na primeira sessão de La Spirale, de Armand Matellard, no auditório da Biblioteca Nacional. Depois, com a sua saída da Secretaria de Estado da Cultura revia o Eduardo nalgumas antestreias, nas extensões a Lisboa do Festival de Cannes, no Quarteto, ou nos ciclos da Gulbenkian ou ainda nos ciclos do Palácio Foz a que fui dando colaboração enquanto "prestador" de serviço, a partir de 1978, da Divisão de Cinema da DGAC/SEC. Desde sempre, nunca me escaparam os"textos literários" do Eduardo Prado Coelho (minto, houve um interregno, breve, por causa da sua aproximação e apoio a Eanes, em 1980...), os seus livros , as suas críticas de cinema (recortadas dos jornais e religiosamente coleccionadas), que conservo, "contaminados" por muitos sublinhados e anotações.
A imagem que conservo do Eduardo é também a imagem de um homem para quem a escrita era vivida como uma paixão, intensa e grandiosa.

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