A noite passada (em casa, como quase sempre) foi profícua em momentos de reentrega cinéfila e literária.
1. Regresso a Theo Angelopoulos, que é só um dos maiores realizadores de sempre da História do Cinema, através do seu penúltimo filme, Eternity and a day (1998) :obra admirável, de rara profundidade filosófica e enorme solidez visual, em redor da viagem de um escritor em busca do tempo perdido e dos momentos que gostaria ter de volta por um dia ou por toda a eternidade. Eleni Karaindrou assina uma contagiante e muito bela banda sonora. A (re)visão de Eternity and a Day deixa-me a sensação, agora mais firme, de que os sinais da devastação ética na Europa (vidé a destruição da Jugoslávia...) não é só uma consequência da intempérie da globalização mas também um sinal de retrocessos, perigosos na maioria dos casos, impensáveis há uma vintena de anos e que nos remetem directamente para a "utopia" de um mundo europeu, o da fraternidade, da igualdade, da solidariedade. Quer dizer: na nossa condição de humanos estamos a perder , cada vez mais, o sentido de Humanidade.
Como foram proféticas as palavras de Sartre sobre o futuro -"Socialismo ou barbárie?".2. Ruy Belo, o excelente poeta da meditação, de grande poder narrativo, que descobri aos 23 anos, volta nestes dias a apetecer-me. E ainda bem que assim é (como provavelmente diria também o Eduardo Graça!). Reencontrar Ruy Belo é como descer ao mais fundo de nós. É entregarmo-nos a nós próprios, "fugitivos da catástrofe", - belo título do seu último poema publicado em vida ( na Colóquio /Letras, nº42, ) . Leio em Aquele Grande Rio de Eufrates (seu primeiro livro) esta coisa simples mas lapidar: "vem ao meu pátio ver crescer a sombra". Onde podemos enontrar tal força da palavra?.
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