domingo, abril 26, 2009

portfólio (6)


Refª: ciclo de cinema "França, Cinco Grandes "
Formato: A4, uma cor
Design e produção: JSDiabinho
Edição: ABC Cineclube de Lisbooa, 1987

sábado, abril 25, 2009

a felicidade

Às sete e meia da manhã fui ao café nova américa espreitar o ambiente. Tomei o pequeno almoço ao balcão e vi que as pessoas estavam em tensão mas olhavam uma s para outras com tímidos sorrisos de pequena felicidade. Menos os dois guardas da PSP que lá estavam agitados a anunciar em voz altiva que o Caetano estava a dominar o golpe.Na papelaria a senhora Hermínia confidenciou-me que estava à espera de edições especiais de todos os jornais e já tinha reservas de clientes que não iam sair de casa.Comprei pilhas para o radio portátil e corri para casa. É quando aguardo que "caia" o verde que um opel branco passa por mim e uma voz ecoa poderosa vinda de dentro morte ao fascismo! viva a Liberdade! Chegado a casa telefono pela enésima vez ao Duarte e digo-lhe vamos encontrar-nos nas picoas e rumar até ao rossio, parece que a gnr fiel ao governo posicionou-se em toda a praça e estão armados. Vamos mas é para o terreiro do Paço disse o Duarte. Não fomos. Acabei a manha devorar torradas na cozinha do "JPB" e a ouvir as rádios. Saímos para o Carmo quando o regime já agoniava,
Se tivesse de morrer , seria aqui disse quando descemos a rua nova da trindade a correr sem ligar nenhuma aos soldados da gnr de mauzer na mão que mantinham o cerco e alimentavam a ideia dos comandantes para uma acção de garrote ao largo do carmo.
Lisboa, entre-campos, 25 de Abril 1984

quinta-feira, abril 23, 2009

prima della rivoluzione


Foi assim: às 10 horas da manhã do dia ensolarado de 24 de Abril de 1974 apresentei-me no primeiro piso do tribunal de polícia, junto ao faraónico palácio da justiça, em S.Sebastião na qualidade de arguido-acusado de "actividade subversiva contra a segurança do Estado" e -há sempre um "e"!- por ter recusado pagar uma coima de 2.250$00 por distribuição de panfletos no Liceu D. Pedro V .
Lá estive -lá estivemos , os doze ou treze colegas "subversivos- quase uma hora a circular no hall seguido(s) pelos olhares insatisfeitos de quase uma vintena de agentes fardados de cinzento e equipados a rigor de pistola-metralhadora a tiracolo até que uma porta se abriu e um senhor de fato escuro comunicou o adiamento da sessão para 4 de Outubro.
Convém recordar que "isto" se explica uns meses antes -em Junho de 1973-, num meeting realizado no Liceu D. Pedro V contra o fascismo onde foram detidos vinte e tal estudantes (incluindo um menor de 14 anos)no decurso do festim de bastonadas e outras bestialidades comuns ao tempo por ordem do Capitão Pereira que cercara e invadira literalmente a escola. Conduzidos sob escolta(!) primeiro a uma esquadra junto à penitenciária de lisboa depois rumo ao governo civil de Lisboa,fomos encarcerados numa cela de 3 m2 com mais oito ou 9 colegas desde o fim do dia até meio da manhã seguinte. Depois do acto forçado(de despersonalização, tão criticado em missivas oficiais por Marcelo Caetano) do corte de cabelo à máquina zero numa barbearia repleta de guardas reformados a lançarem-nos "bocas" e a aplaudirem as "carecadas"fomos conduzidos para o gabinete do chefe de dia, espécie de recepção de hotel, para nos apresentarem a factura de 2.250$00 por "actividade subversiva" (nunca percebi se o corte de cabelo estava incluído).Eram perto das 13h30 de sábado quando saímos em liberdade.
Nessa noite de 24 de Abril de 1974, eu , o meu amigo "JPB" e o seu pai, advogado e oposicionista, reunimo-nos num restaurante chinês para a habitual tarefa de debater com entusiasmo o fim do salazarismo-marcelismo. O "fim" só era possível , como havíamos concluído, pela força das armas. O pai de "JPB" ainda arriscou a possibilidade de Caetano conseguir controlar os "ultras" e por em marcha mudanças de fachada .
Ironia do destino: quando cerca das onze e meia da noite descia a av. estados unidos da américa em direcção a casa a fadiga e a excitação da conversa não me despertou os sentidos que dois camiões militares em velocidade passassem por mim em direcção à avenida de Brasil. Chegado ao meu quarto lancei-me sob a cama a ouvir na rádio renascença a leitura de abertura ("Grândola, Vila Morena /Terra da Fraternidade/ O Povo É quem Mais Ordena/ Dentro de ti Ó Cidade)do programa Limite o som de marcha cadenciada e a voz do Zeca a troar livremente. Mal sabia eu... .
Eram cinco da manhã quando a minha Avó Maria José me acorda a dizer está o Duarte ao telefone a falar de revolução. Graças a deus, graças a deus, vai acabar a guerra! dizia a minha avó com olhos a humedecerem-lhe. E o Duarte na linha a insistir sintoniza a emissora (nacional) estão a passar músicas do zeca, do mario branco, do adriano, também do fanhais, e do freire... .
Lembro-me perfeitamente... .
Lisboa, entre-campos, 23 de Abril de 1984

sexta-feira, abril 17, 2009

profissão de fé


Anteontem, durante o acto mais ou menos inglório de (des)arrumação de uma das estantes dei por mim a sorrir ao reencontrar uma velha pérola do então temerário Alberto Pimenta: "Discurso sobre o filho-da-puta" (com notas de Câpelo Filho Catedrático Literaturas Paradas) que em 1987 deu á estampa em festejada 6ª edição da Centelha de Coimbra e é hoje (quase) uma raridade -o livro ,claro!
A páginas tantas o Alberto escreve em duas linhas esta coisa singela e certeira :"Há os filhos-da-puta vocacionados para fazer e filhos-da-puta vocacionados para não deixar fazer e estes são os dois tipos universais e eternos filhos-da-puta... ."
Que triunfam, quer-se dizer!