domingo, março 29, 2009

Orson Welles


Quando as últimas flores
ou mesmo uma só flor murchar
heroicamente desdisser a cor e estame
e eu estiver longe e largo e afogado
em sementes condoídas mais inúteis
quando a vida for um morteiro longo
anunciando anunciando
dando vivas à raiz do seu nome e seu destino
quando ninguém olhar
ninguém sequer tocar de leve
quando vestir o colete de fraquezas
e o limo declarar as coisas breves
quando a aurora não for um nome de mulher
nem mesmo houver os nomes de mulher
e a raiva cair tal como a noite cai
mas numa só cabeça
sem rede sem luvas sem sentidos
quando o vento estiver perfeitamente louco
e o dicionário se perder
sem pena e sem vaidade
quando é certo claro que o é
quando um homem tiver braços abertos
e eu braços fechados
- no colete três vezes nove
vinte e sete
quando só ele me souber o nome
e me esperar já sem poder instar
por eu estar mudo é isso e já não houver
mas inda só o tempo e a espera não houver
mas inda só em mim - e tão diferentemente!-
e aqui seja tão tardo como ali
uma cerveja esperará por ti
Pedro Tamen, poeta
in Bosque Sagrado, ed. Gota de Água, 1986
Foto: The Third Man (Carol Reed, 1949)


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