Salvo uma ou outra excepção a política do governo continua a seguir, passo a passo, a cartilha de recomendações do FMI. E é pena, porque ao contrário do que se pensa, a sociedade portuguesa não tem (nem terá, nunca) desenvoltura nem dinâmica capazes de aguentar os efeitos devastadores das políticas económicas de "ruptura" em curso, definidas como "necessárias e imperiosas" para o "sucesso" de Portugal, como rezam todas as teses.Nem muito menos estamos preparados para as suas consequências. Em nome do mesmo "sucesso", pedem-nos que enterremos os sonhos (quer dizer, as aspirações, os desejos, as vocações...) e nos disponhamos de bom grado a aceitar todo o tipo de estereotipos e de normas, novas, em que "necessáriamente" passaremos a viver, a depender, para nosso bem, individual e colectivo, evidentemente.
O pior desta tragédia não é o facto de acabarmos, dia menos dia, por nos tornarmos ainda mais escravos e pobres, o pior é convencerem-nos através da alienação que o sonho é um absurdo agora e sempre para o resto das nossas vidas. A tragédia maior é que é preciso um esforço, enorme, para levar as pessoas a perceberem que ele, o sonho, é uma coisa que lhes pertence por direito, que lhes é intrinseca e não é "negociável", em nenhuma situação como as outras coisas que deixámos , pouco a pouco, e cobardemente, nos fossem sendo retiradas.Em nome da "crise", do "desenvolvimento" e também de um "futuro radioso" que jamais conheceremos. Se calhar a ideia de felicidade para a maioria continuará a estar, por muitos anos e bons, no preenchimento semanal do euromilhões. Quer dizer, pelo jogo, pelas apostas, só. Maior felicidade do que esta não pode haver!